ESTÁTICA E MOVIMENTO

24 de janeiro de 2006

Educação aos Altos e Baixos

Água Benta

Presunção e água benta... cada um toma a que quer.

Se este ditado popular se aplica a inúmeras situações, muitas outras “fogem” a ele.

Qualquer aluno em qualquer uma das escolas de Portugal já ouviu falar de água benta. Mais: já sentiu os seus efeitos, seja de forma positiva seja de forma negativa. E mais: os beneficiados são sempre os mesmos: os alunos mais fracos!

Passo a explicar (o que todos já sabem...)... Os alunos que obtenham classificações próximas da nota positiva (identificada como 50%, quantificação usada no 1.º ciclo, semelhante à nota 3 nos 2.º e 3.º ciclos, e ao 10 no ensino secundário) vêm muitas vezes ajustadas essa classificação por força de “ajustamentos necessários face às notas e médias da turma” (leia-se água benta)!

A razão que aponto é uma entre muitas possíveis e facilmente enumeráveis. Todos conhecemos algumas mais: taxas de sucesso e/ou insucesso, estatísticas diversas ou indicadores para avaliação do pessoal docente, da escola ou do ensino em Portugal...

Esta forma de proceder levanta questões, graves, no meu entender.

O aluno “vitima” da água benta é sempre aquele que obtêm classificação próxima do 50%... nunca os que obtêm classificações próximas dos 100%! Porque? Será que o esforço mínimo merece mais recompensa? Será que foi “apenas” pela tentativa feita pelo aluno? Foi “pena” do aluno por ele ter feito um “esforço” mas não tenha conseguido atingir mais? Ou será por exigência aos bons alunos? Será para motivar (uns pela positiva... e outros pela via do dialogo dizendo que pode ir mais além)?

Os bons alunos, que estudam muito e provam no dia a dia o seu elevado grau de conhecimentos, não merecem nunca prémios ou bonificações (a dita água benta)?

Mais: não estaremos com esta forma de proceder a branquear os alunos com insuficiências a diversos níveis do conhecimento necessário, lançando-os nos anos seguintes de forma continuada e sucessiva, provocando muitos dos abandonos no ensino secundário e universitário? Não estaremos em ultima analise a lançar inúmeros desempregados para as estatísticas? Ou ajudar aqueles que vivem das frases feitas que preconizam mais formação para as pessoas... para reconhecimento de competências por exemplo?

Esta água benta nas escolas é sinónimo de uma “cultura do demérito e da preguiça” em lugar da “cultura do mérito” e do estudo.

Os alunos do 50% sabem, ostensivamente, que se “apontarem objectivos” para essa nota passam de ano... mesmo que ele não seja plenamente atingido.

Por outro lado os alunos do 70%, 80%, 90% ou 99% sabem, sem apelo nem agravo, que a sua nota não será “ajustada”, nem sequer pela simples razão que presidiu aos ajustamentos da outras: a benção, nem que seja com água!

Para finalizar:
1.º Vejam as notas dos alunos que frequentam colégios privados...
2.º Não argumentem, mais uma vez, com as estatísticas que nos dizem que as classificações dos exames são inferiores às classificações obtidas nos períodos lectivos. Para chegar a conclusões perante estes números seria interessante estudar a proveniência dos alunos...

Não será isto desmoralizar o mérito?

Paulo Gomes da Costa