ESTÁTICA E MOVIMENTO

11 de março de 2010

FASES…

A “Educação” em Portugal deve ter algumas características similares às do crescimento das crianças, nomeadamente as vulgarmente denominadas “FASES”…

Estamos na fase do “Bullying”…

Nos últimos anos estivemos na fase da luta dos professores por um ECD melhor e por uma “avaliação de desempenho” no mínimo “diferente”, luta essa polvilhada por uns pozinhos de Estatuto do Aluno… Os alunos e tudo o que os envolve na escola tem estado algo longe de qualquer fase..

O problema é que as fases não são estanques nem deixam todas as outras características da educação em “pausa”. A educação será antes um conjunto de fases, onde em determinado momento uma delas ganhar sobressair em relação às outras. O que não deveria ser motivo para olharmos só para essa característica esquecendo as outras.

As fases no “sistema educativo” não são mais que um aspecto que ganha relevância sobre outros. O problema é que os meios de comunicação social e os “especialistas” passam uns tempos a dar atenção a essa característica como se ela fosse a única a merecer atenção e dela dependa o sucesso ou insucesso das escolas e da educação.

Hoje fala-se de “Bullying” porque, infelizmente, um caso entre muitos assumiu proporções mediáticas nos telejornais nacionais em todas as TV’s. Mas muitos acima referi, muitos outros assuntos seguem o seu percurso natural em paralelo com o “bullying”: a (in)disciplina das crianças nas salas de aula, a (in)disciplina em casa, os programas dos diferentes anos curriculares, a carga horária que as crianças têm de suportar na escola, os sistemas de avaliação de conhecimentos das crianças, os exames nacionais que elas têm de fazer, para além de todas as situações familiares envolvidas na educação de uma criança… Tudo isso não pára!

No que ao “bullying” diz respeito, as recentes políticas do Ministério da Educação têm agravado o problema. Ao aumentar o tempo de permanência das crianças nas escolas, sem criar qualquer estrutura adicional minimamente adequada que permitisse suportar o maior número de horas de cada criança na escola, aumentou a probabilidade destas situações acontecerem.

Paralelamente a este aumentar de horas de permanência da escola, muitas famílias foram “levadas a pensar” que é à escola que compete “educar” as crianças… A família servirá para… outras coisas! O facto é que muitas famílias desresponsabilizaram-se de acompanhar os filhos no dia-a-dia. E quando falo de “acompanhar” não falo de “ver” se a criança tem trabalhos escolares para fazer ou se já os fez, mas sim saber o que faz a criança na escola, nas aulas e nos tempos livres que tem, dentro e fora da escola. Muitos Pais e Encarregados de Educação, escudados atrás de argumentos que o governo usou – e que privilegiam a ideia que os Pais tem de trabalhar e por isso precisam que a escola “tome” conta das crianças – abandonaram completamente a responsabilidade de educar e acompanhar os seus filhos!

Este abandonar de responsabilidade, acompanhado pelas alterações menos adequadas ao Estatuto do Aluno e uma falta de cuidado dos professores na implementação da necessária disciplina, deixou a descoberto uma “folga” aproveitada por muitos alunos, que perceberam a possibilidade de “abusar” sem serem responsabilizadas pelos seus actos!

Mas estejam as causas do “bullying” ou da indisciplina na sala de aula dentro ou fora da escola, não podemos esquecer que as suas consequências se reflectem em primeiro lugar na escola. E se a escola pode resolver alguns desses problemas e respectivas consequências, outros há que não podem ser nunca permitidos dentro de uma escola. A indisciplina não pode ser permitida em nenhuma circunstância.

Dizer que as crianças que causam indisciplina dentro dos recintos escolares têm origem em famílias desestruturadas – ou de qualquer outro tipo - não pode ser aceite por ninguém como justificação! Nem pode existir complacência, acreditando que com a primeira desculpa virá a solução… Ao ser complacentes corremos o risco de passarmos a viver sob o signo da violência e numa selva onde a lei do fisicamente mais forte prevalece…

Não quero com isto dizer que a escola não colabore na resolução dos problemas que a afectam e que têm origem fora da escola. Mas deve ser apenas uma entidade a colaborar. Compete a muitas outras entidades liderar a sinalização dos problemas e a tentar a sua resolução.

Em qualquer dos casos a forma como se têm abordado os problemas da educação – por fases – impede ver os problemas como um todo e de pensar as soluções de forma abrangente e completa. Por outro lado a governação, ao ceder a critérios economicistas tem comprometido a melhor evolução das soluções. E isto não vai melhorar…

A que situação nos conduzirá tudo isto? Qual será a próxima fase?

No curto prazo poderá ser a Educação Sexual, problemas de ordem religiosa, o alcoolismo, ou a delinquência juvenil com reflexos imediatos no respeito pelo outro e pela propriedade alheia.

Se nada mudar… vai ser bonito vai!

Paulo Gomes da Costa
2010.03.11