ESTÁTICA E MOVIMENTO

12 de março de 2010

FASES… II

Uma notícia do jornal Público dá conta que um suicídio de um professor se deveu a problemas não resolvidos no seu local de trabalho: uma escola.

Naturalmente que foi fácil ouvir diversas declarações anónimas de professores alunos e encarregados de educação que indiciam a existência de problemas de violência dentro da escola onde leccionava o professor que se suicidou…

Estaremos já a passar da fase do “bullying” para uma nova (velha) fase? Da fase da violência dos alunos sobre alunos para a fase da violência dos alunos sobre os professores?

Já há alguns anos que se ouve falar da “violência” dos alunos sobre os professores. Bastará lembrar do mediático caso do “telemóvel” numa escola secundária do Porto.

Este tipo de violência foi até motivo para a criação de linha telefónica de ajuda aos professores: SOSProfessor, entretanto já extinta.

Mas passar da fase do “bullying” para a fase da “violência” sobre os professores é torcer um pouco o centro do problema. Até porque são problemas diferentes.

O bullying tem a ver com violência entre pares e entre um agressor mais velho e uma agredido mais jovem e, normalmente, fisicamente mais fraco… A violência dos alunos para com os professores tem a ver com a indisciplina que é permitida aos alunos dentro da sala de aula e com a incapacidade dos professores para lidar com essa indisciplina. Num grau bastante menor tem a ver também com os meios legais ao dispor das escolas e dos professores.

Recentrar o problema na indisciplina dos alunos sobre os professores a partir de um problema de “bullying” entre alunos, parece-me uma tentativa egoísta dos Sr.s Professores que teimam em querer ver apenas o seu próprio umbigo. A ser conseguida essa transferência de atenção seria voltar a ter uma fase em que os professores são o centro das atenções e os problemas dos alunos mais uma vez menorizados.

Penso que seria uma boa altura para muitos perceberem que alguns professores não têm efectivamente capacidade para se impor nas salas de aula, o que proporciona situações bastante desagradáveis para eles. E que muitas escolas não “gostam” de assumir estes problemas pensando, erradamente, que assumi-los seria um sinal de fraqueza.

Dizer que não há situações quando depois se vê que afinal até há casos a ser investigados pelas autoridades policiais ou pela comissão de protecção de crianças não é bom para a escola… Não fazer nada perante as queixas de um professor mostra cobardia em assumir a resolução dos problemas de um colega de trabalho.


Convém dizer que as escolas têm meios para resolver estas situações. Castigar de imediato os alunos e a possibilidade de mudar os horários dos professores em situações extremas… Dizer que não têm esses meios é esconderem-se dos problemas. Acontece ainda que os professores gostam de assumir publicamente estes problemas e as direcções das escolas também não se sentem “livres” para assumir atitudes que, sendo problemáticas, centram a atenção do ministério da educação e dos seus serviços – alem do interesse da comunicação social - nas suas escolas.

Por outro lado a recente hierarquização da gestão, com uma ligação muito directa ao ministério da educação – através da responsabilização directa dos directores pelo ministério – não ajuda à tomada de decisão. Os directores tendem a ver sempre “o machado sobre a sua cabeça”, aumentando a tensão e reduzindo a capacidade de decisão em casos mais delicados.

Chega de tanto medo… De Directores, de Professores e até de Pais e Encarregados de Educação! Chega do “virar as costas” aos problemas. É altura de enfrenta-los, seja na violência entre alunos, seja na manutenção da disciplina nas escolas. Meter os problemas amontoados num qualquer canto é como meter lixo num aterro sem qualquer tipo de selecção ou reciclagem!

Não cheira mal no momento mas vai trazer problemas no futuro próximo…

Paulo Gomes da Costa
2010.03.12