ESTÁTICA E MOVIMENTO

30 de outubro de 2008

O CONTO DOS 150 M

Era uma vez uma senhora ministra que, pensava, pensava, pensava.

Vagueava pelos corredores do seu ministério e, pensava, pensava, pensava.

Era a senhora ministra da educação do nosso reino.

Sentada na sua secretária fazia contas, recontava e trecontava mas não achava solução.

Andava nisto dias sem fim a senhora ministra da educação do nosso reino.

Como conseguiria ela poupar 150M no seu ministério.

Num dos seus dias divagando nos seus jardins, encontrou o seu pajem, e disse-lhe “recordas-te daquele rei que mandou os candidatos a casar com a sua princesa, a ir à feira com um ducado, e teriam de trazer um ducado do que havia o mesmo ducado do que não havia, e ainda haviam de trazer o tal ducado. Sim ministrissima, lembro, era uma das muitas anedotas do Bocage. Pois é meu pajem tenho de arranjar uma solução idêntica.

Noutro dia encontrou o aio e disse-lhe, conheces aquela história do rei que sempre que queria que as coisas crescessem as alisava mais. Sim ministríssima, era a história do pai de nós todos, segundo o Bocage. Pois é meu aio preciso de algo parecido com isso.

Noutro dia encontra o bobo e diz-lhe: bobo como é que fazes para nada te faltar e andares sempre feliz? É que eu preciso de algo parecido! Ministríssima isso eu não digo, senão deixo de ser alegre, mas pode consultar o vidente do reino que ele há-de ter uma solução.

Então marcaram um determinado dia para consultarem o vidente do reino e lá foram todos, a ministra do reino da educação, o pajem, o aio e o bobo.

O vidente do reino congratuladissimo com visita tão importante vergou-se todo numa vénia tal, que nem à rainha tal tinha acontecido.

Sentaram-se todos em redor da mesa, onde estava uma bola de cristal, umas patinhas de frango e umas asas de borboleta, por lá estavam mais dois baralhos de cartas umas pedras esquisitas e outras coisas que tal.

Diga ministríssima ministra da educação do reino o que a faz fazer-me tal visita, com todas estas testemunhas?

Meu bom e dom vidente do reino, tenho necessidade de poupar no meu ministério cerca de 150M, e de tantas voltas ter dado à minha mente já quase nem um único cabelo tenho que não seja branco.

Deixe-me consultar os meus apetrechos e já lhe digo. Pensou, analisou e por fim disse. Está difícil ministríssima ministra da educação do reino, já não pode diminuir mais os salários dos professores e educadores, já não pode comparticipar com mais verbas para os municípios, já não pode cortar mais nas despesas de manutenção, e, depois da asneira de os pequenos não reprovarem por faltas e passarem com um examezito do género quem é o jogador português que teve mais namoradas? Das boas!!! Ou quem é o presidente do clube que mais títulos internacionais ganhou, a quem chamam de papa! Em vez de perguntas sobre quem foi o ultimo rei do reino antigo, o grande matemático português ou quem descobriu o caminho marítimo para a Índia, não é fácil não.

Estou num autêntico colete de forças, mas meu bom dom vidente, sei que tu tens sempre uma solução, como diz aqui o nosso bobo.

O vidente voltou a olhar tudo aquilo que tinha na mesa, enquanto o bobo, o aio e o pajem falavam da asneira dos exames, quando eis que num grito único o vidente disse “os exames ministríssima, os exames.

Como os exames, riposta a ministra do reino!

Depois de muito analisar podeis vós senhora ministríssima ministra da educação do reino poupar os tais 150M. Simples, muito simples.

Não há mais reprovações entre o 1º e o 9º ano da escolaridade, e só nisso se ganha tal valor.

Que ideia brilhante, só tu meu bom dom vidente, obrigado, obrigado.

E todos se retiraram. Na viagem de regresso ao comentarem tal solução o aio lembrou que a ministríssima iria passar por um mau bocado quando anunciasse tal, o pajem ainda piorou as coisas afirmando que com uma proposta destas ela teria os dias contados como ministra do reino. Diz o bobo: há uma solução, pedimos a alguém que proponha tal e a ministríssima deixa todo o reino se manifestar e depois facilmente aplica tal lei.

Lembra-se do ECD, foi tal e qual.

E assim a ministríssima ministra da educação do reino, ainda permanece com pelo menos um cabelo que não branco.

P.S. Terá sido por isso que o CNE propõe tal medida?

A. Boleto Fonseca
2008.10.30

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