ESTÁTICA E MOVIMENTO

4 de novembro de 2008

EDUCAÇÃO SEXUAL

Recentemente a Educação Sexual voltou a estar sob a atenção dos média, de muitos Pais e Encarregados de Educação, de Professores e Alunos.

Voltou temporariamente, porque a luta dos Professores contra algumas das medidas que o Ministério da Educação tem vindo a implementar afasta qualquer outro assunto da atenção de Pais, Alunos, Cidadãos e até dos Professores que, centrados nos seus problemas, aparecem não ter tempo para muitos outros temas de indiscutível interesse para os seus alunos e, em muitos casos, os seus filhos!

Voltando à Educação Sexual... A APF, Associação para o Planeamento da Família e o ICS, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, desenvolveram um estudo sobre o tema e que tem o título “A Educação sexual dos Jovens Portugueses - Conhecimentos e Fontes”.

Só tive acesso às conclusões que foram divulgadas à imprensa e que obtive no site da APF. Estarei atento para tentar obter e ler o estudo completo, que considero ser de muita importância.

As conclusões que foram apresentadas parecem-me muito sintéticas e não permitem retirar muita informação para além do que lá está escrito. Talvez o interesse de umas conclusões seja este mesmo. Mas algumas perguntas ficam por responder. Aguardo então pela oportunidade de ler o estudo completo...

Do que li realço algumas ideias, transcrevendo ao longo deste texto em itálico e na cor verde o que é dito nas conclusões. Permito-me também realizar alguns comentários a seguir ao texto que realcei.

De referir que este estudo resultou de uma pareceria entre a APF e o ICS, apoiado pelo IPJ para tratamento dos dados. O estudo teve como base as seguintes premissas:
• Estudo sobre educação sexual dos jovens escolarizados;
• Inquérito por questionário;
• Amostra de conveniência recolhida através de contactos estabelecidos entre a APF e as escolas de todas as regiões do país;
• 63 escolas secundárias: Alentejo (8); Açores (8); Algarve (6); Centro (13); Madeira (5); Norte (9); Lisboa (10);
• Uma turma do 10º Ano e outra do 12º Ano em cada escola;
• 2621 jovens inquiridos;
• Cerca de 60% do 10º ano e 40% do 12º Ano.

Sobre as conclusões saliento os seguintes temas, que considero importantes.

Conhecimentos sobre sexualidade:
Aplicámos uma escala de conhecimentos com 27 questões básicas sobre diversos aspectos da sexualidade, fecundação, contracepção e IST.
Cerca de 46% dos jovens acertaram entre 60% e 75% das respostas e 13% acertaram em mais de 75% das respostas. Cerca de 41% dos jovens errou em mais de 55% das questões.
As raparigas têm mais conhecimentos sobre sexualidade que os rapazes (56% contra 47,5%).

Temas com melhores níveis de conhecimentos: (acima de 75% acertaram)
• Função do preservativo (93%):
• Menstruação (87%):
• Desejo sexual de homens e mulheres (84%):
• Probabilidade de contágio de SIDA (83%):
• Ejaculações nocturnas (82%);
• Maturidade física na puberdade (80%);
• Sentimentos dos adolescentes (78%);
• Tratamento das IST a dois (77%);
• Risco nas relações sexuais (76%).

Temas com níveis razoáveis de conhecimentos: (entre 50% e 74%)
• Uso correcto do preservativo (74%);
• Ovulação e espermatogénese (69%);
• Masturbação nas mulheres (69%);
• Masturbação nos homens (68%);
• Puberdade nos rapazes (67%);
• Início da sexualidade (56%);
• Método contraceptivo menos eficaz (54%);
• O que é a homossexualidade (51%).

Temas com níveis insuficientes de conhecimentos (entre 25% e 49%):
• Período fértil e gravidez (49%);
• Onde podem ser adquiridos os contraceptivos (48%);
• Riscos de gravidez não desejada (47%);
• Método do calendário (42,5%);
• Pílula do dia seguinte (41%);
• Interesse dos adolescentes em actividades sexuais (32%);
• Toma da pílula (29%);
• IST (27%);
• Gonorreia (27%).

Sobre os diversos temas relacionados com educação sexual e sexualidade e perante os números divulgados, considero grave o desconhecimento sobre alguns métodos contraceptivos e muito grave o desconhecimento sobre as doenças ou infecções sexualmente transmissíveis. O valor de 27% indica a necessidade urgente de ser fomentada a divulgação de informação sobre o tema. O assunto é demasiado sério para acreditarmos que um dia alguém poderá elucidar os jovens dos perigos destas infecções.

Falar de sexualidade com pai e mãe
Uma parte importante dos jovens refere dificuldades em falar com os pais sobre sexualidade:
• 59% dos jovens afirmam nunca falar ou falar pouco com o pai (mais as raparigas – 65% que os rapazes – 50%);
• 38% dos jovens afirmam nunca falar ou falar pouco com a mãe (mais os rapazes – 48% do que as raparigas – 31%).

Para provar que a informação não pode ser deixada ao acaso, temos as percentagens de jovens que falam com os Pais sobre sexualidade. Na melhor das hipóteses 38% dos jovens não falam com os seus Pais sobre estes temas... E se for 59% então estamos perante um valor demasiado elevado! E se não é fácil inverter estes números há que arranjar alternativas, mais uma vez, para difundir informação. A escola apresenta-se como a primeira alternativa viável e com elevada possibilidade de sucesso!

Mas se os jovens não falam com os pais falam com quem? O estudo aponta os seguintes números:

Fontes de educação sobre sexualidade
Os jovens conversam mais sobre sexualidade com:
• os amigos(as) (quase entre os 50% e 70% em todos os temas);
• a mãe (à volta dos 40% em todos os temas);
• o(a) namorado (a) entre os 20% e os 30% (mais risco de gravidez, contracepção, relações amorosas, início da vida sexual);
• professores – em torno dos 30% (SIDA, IST, contracepção e violência);
• o pai só sobre alguns temas gerais – em torno dos 30% (aborto, SIDA, violência);
• com profissionais de saúde – 15 a 18% só contracepção e consultas.

Papel da escola
No 3º Ciclo

• 60% dos jovens referem ter abordado temas de educação sexual na disciplina de ciências naturais;
• 28% referem ter abordados temas de educação sexual nas áreas curriculares não disciplinares (especialmente a Formação Cívica);
• 12% dos jovens referem ter abordado temas de educação sexual em colóquios e outras actividades extra-curriculares;
• 5,5% dos jovens referem ter abordado temas de educação sexual na disciplina de educação religiosa;
• Os temas mais abordados são: mudanças pubertárias, contracepção, SIDA, IST, questões de género e risco de engravidar.
No Ensino Secundário
• 40% dos jovens referem ter abordado temas de educação sexual na disciplina de Biologia (puberdade, diferenças de género, SIDA, IST, contracepção, PDS);
• 16% dos jovens referem ter abordado temas de educação sexual em colóquios e outras actividades extra-curriculares (todos os temas);
• 8% dos jovens referem ter abordado temas de educação sexual na disciplina de Filosofia (aborto).

Prevenção da não desejada
• 80,6% falaram com o parceiro sobre modo de evitar uma gravidez;
• 95% dizem ter tomado alguma precaução para evitar uma gravidez;
• 96% destes jovens usaram o preservativo e 13% a pílula.

Prevenção das IST;
• 66% destes jovens afirmam terem também discutido a prevenção das IST;
Uso actual de contraceptivos;
• Na última relação sexual, 74% dos jovens afirmam ter usado um preservativo e 50,1% estavam a usar outro método (com ou sem preservativo);
• Dos que não usaram qualquer método contraceptivo, 29% afirmam que não usaram porque não pensaram nisso.

Gravidezes não desejadas
• Houve 16 raparigas (2,4% das raparigas sexualmente activas) que engravidaram e 11 rapazes (2,6% dos rapazes sexualmente activos) em que as parceiras engravidaram;
• 7 destas gravidezes resultaram num nascimento, 7 em aborto espontâneo e 10 em aborto provocado.

Destaco os números que dizem respeito a prevenção de uma gravidez indesejada e à prevenção das IST/DST. Nestes casos parece existir algum cuidado por parte dos jovens. Mas temo que sejam só aparências uma vez que os números apresentados são preocupantes. Mesmo que muitos jovens admitam usar preservativos, pílula ou outro método contraceptivo que os proteja das IST / DST, parece-me que o número de jovens que não usa nada ou usa algum método incorrectamente é extremamente elevado. Taxas de 5% já são elevadas...

Como exemplos que podem comprovar a gravidade da situação temos os números que do estudo que podem sugerir o número de jovens que não usam preservativos e o número de jovens que não usam qualquer método contraceptivo.

Outro número significativo são os 29% dos jovens que não usaram preservativo e admitiram que “não pensaram nisso”!

O número de gravidezes não desejadas também é significativo, assim como o número de interrupções de gravidez. Dos casos assinalados (num máximo de 27 gravidezes e num mínimo de 18) apenas uma criança nasceu. Penso que a falta de informação e apoio é manifestamente insuficiente ou mal direccionada já que parece não haver uma distribuição equitativa de situações: número equivalente de interrupções de gravidez e nascimentos.

Relações ocasionais
• 28,5% dos jovens sexualmente activos já tiveram relações com outras pessoas que não o/a namorado/a;
• 32% destes jovens mais do que 3 vezes ;
• 80% dos jovens que tiveram este tipo de relações usaram o preservativo.

Se o que estes números sugerem for uma tendência, o número de relações ocasionais fora dos parceiros habituais é preocupante.

Por fim as três últimas conclusões do estudo, que considero de muita importância para desmistificar mitos, medos e receios da introdução da Educação Sexual nas Escolas:
• O estudo sugere que a educação sexual não antecipa o início das relações sexuais e é mesmo um factor de algum adiamento
• Melhor educação sexual diminui alguns aspectos negativos na vivência das relações sexuais, proporcionando uma vivência mais gratificante das mesmas
• A educação sexual tende também a estar positivamente associada a alguns comportamentos preventivos e a uma capacidade de pedir ajuda, quando necessário

Consultar: Conclusões do estudo distribuídas à comunicação social em 16 de Outubro de 2008

Paulo Gomes da Costa
2008.11.04

Etiquetas: , , , ,