ESTÁTICA E MOVIMENTO

20 de novembro de 2008

O CAOS EM SEIS MESES

Na última janela do maior edifício do país estava ela a sonhar.

Bem confortada em sofás de qualidade alta, aconchegada por soberbos adornos de penas e para o pezinho uns importados tapetes persas.

Irão, todos de carrinho, de compras, que já ninguém faz porque já toda a banca tinha falido. Tudo o que faltava no país estava concentrado naquele maior edifício.

Eram as forças militares e militarizadas, divididas por cada piso, para quando ela se quisesse mover os tivesse ali à mão de semear, os serviços de saúde que restavam no piso –o, pois todos os outros tinham abandonado o sns, emigrando para países de leste, e pouco mais do que um grupo de correligionários por lá ficou.

Daquela janelinha, ela, sentado no seu aconchegado sofá, via alunos revoltados por não serem avaliados em exames, tal qual os seus pais foram, e que alguém unilateralmente decidiu anular.

Juntaram-se em gangues e tudo assaltavam e destruíam, a electricidade deixou de funcionar, os serviços de apoio eólicos pararam por falta de formação a quem tinha de fazer com que as ventoinhas continuassem a rodar, o sistema de viação parou, só não pararam as viaturas que de frente a frente umas nas outras embatiam.

A sinalização parou e entretanto destruída criava uma balbúrdia tenebrosa naqueles que ainda com um pouco de combustível tinham de reserva se movimentavam.

Todos os postos de combustível esgotados estavam.

Na longa costa do país atracavam barcos de vária espécie carregados de droga provenientes de todo o mundo, maravilhavam-se os traficantes com tanto consumo, eram aos quilos, todos se refugiavam nas leves e pesadas, batiam permanentemente com a cabeça nas paredes.

As forças de segurança para combater tal, não existiam, (lembram-se... estavam no edifício).

E ela na janelinha continuava no seu sonho.

Não havia produção, as sementeiras haviam acabado, cereais, leite e derivados tinham-se esgotado, com as falhas de energia pararam a indústria, o comércio e os serviços.

Tribunais fechados e seus servidores expostos, todos tinham sido tomados, por tanto desnorte e onde não havia razão para julgar ninguém.

As doses de estupefacientes continuavam a ser consumidas para gáudio dos traficantes.

A destruição era completa, os serviços de transporte não funcionavam por falta de vias de comunicação. Tinham sido destruídas pontes, estradas cortadas, grandes obras rebentadas, a população atordoada corria de um lado para outro, sem esperança.

As lixeiras a céu aberto renasceram, fogos se ateavam e o mundo perplexo não podia intervir.

A epidemia da peste tudo contaminava, a água dos rios, os canais de saneamento entulhados de tanto rato morto, o cheiro nauseabundo que pairava no ar.

Nisto ela acordou, e não gostou do que viu, (a realidade) e voltou a adormecer para continuar a sonhar, e sonhou.

Isto é um caos, já lá vão seis meses, vou por tudo na ordem.

Requisitou todos os serviços do edifício, as forças militares e militarizadas começaram a impor a ordem e respeito, os poucos médicos e enfermagem acudiram aos enfermos, professores e docentes finalmente cumpriam a sua missão de educar e ensinar, todos os experts em engenharia, economia, financeiros metodicamente reorganizaram os sistemas produtivos, serviços, comercio e indústria arrancavam finalmente.

Antes os serviços de limpeza tinham purificado o país.

Pediu ajuda ao seu amigo de raiva, para dirigir o sns, solicitou ao seu não candidato que iniciasse o processo de limpeza das águas, e os restantes aderentes e não aderentes para em conjunto edificar o país, tal como intacto tinha ficado o seu edifício.

Ela a Né das “FL”(*) tinha conseguido.

Após seis meses de caos, fazer todas as reformas necessárias para o bem do povo.

Os combustíveis nivelaram-se pela Europa, acabaram as taxas moderadoras no sns, as taxas bancárias diminuíram de tal forma que todo o povo voltou a recorrer ao crédito, apesar de durante o caos a maior parte da banca ter falido, o ensino passou a gratuito na sua acepção da palavra, reabriram-se centros de saúde, maternidades, hospitais que entretanto alguém os tinha fechado, criaram-se novas vias de comunicação mais ágeis e viáveis, o pib ultrapassou todos os limites, era riqueza atrás de riqueza.

Só o futebol falhou com os irmãos verde e amarelo.

Deixaram de haver arrumadores, pobreza, os serviços de apoio a desalojados deixaram de ter razão de existir.

Novas empresas se criavam, umas atrás de outras, acabou o desemprego, éramos o modelo mundial.

Só não haveria aeroportos novos nem tgvs, porque dava muito trabalho a fazer novos estudos.

E ela na sua poltrona sentada, queria continuar a sonhar, mas... finalmente acordou.

Tinha de acordar...

Acordou e disse...

Precisamos de acabar com a democracia durante meio ano, metemos tudo num saco, pode ser o do Pai natal, e depois como com uma varinha mágica e uns perlimpinpins criamos um país totalmente novo.

E disse-o muito bem, mal, maldizente.

(*) “FL” = frente libertadora.

A. Boleto Fonseca
2008.11.20

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